sexta-feira, maio 20, 2005

O Palácio de Queluz

Em 1654 D. João IV institui a Casa do Infantado, destinada aos filhos segundos do Rei. Nela é incluída o domínio rústico de Queluz, constituído por uma propriedade e um pavilhão de caça, que tinha sido confiscado ao Marquês de Castelo Rodrigo, na sequência dos acontecimentos da Restauração.

Desde cerca de 1747 até 1807, decorrem em Queluz obras que vão constituir um conjunto sem grande integração arquitectónica, mas que mostram as tendências e atitudes que marcaram Portugal na 2ª metade do século XVIII. Ali encontramos uma compreensão barroca do espaço, uma compreensão rocaille na decoração dos interiores e, já, uma antevisão do que será algum do neoclassicismo português.

O primeiro arquitecto de Queluz (fora algumas obras anteriores a 1747, entretanto destruídas) foi Mateus Vicente de Oliveira. É dele o risco do núcleo principal do palácio e das fachadas de “cerimónia” e de “Malta”. Mas Mateus Vicente rapidamente se afasta da obra e é substituído pelo francês Jean-Baptiste Robillon. Robillon é, sobretudo um gravador e debuxador, mas será a ele que o Infante D. Pedro vai confiar a continuação dos trabalhos, mormente o último corpo arquitectónico (Pavilhão Robillon), a decoração dos interiores e os jardins.

Queluz é um edifício que se fecha no interior e para os jardins. Acentua-se assim um intimismo, onde a graça, a futilidade do luxo e da vida, abandonam definitivamente a tradição barroca e encetam a rocaille. Naturalmente que Robillon reservou muitas das suas energias para estes interiores, tanto na decoração das paredes como na dos tectos. O trabalho de talha é notável, contando com a colaboração de entalhadores vindos de França, como Jacques-Antoine Collin e portugueses como Silvestre de Faria Lobo. Basta pensar nas salas do trono, dos embaixadores ou de música.

Este palácio não revela um programa sólido, tanto ao nível da arquitectura como das artes decorativas, é antes um programa circunstancial, feito de vontades e atitudes de momento. Nem tal coisa podia ser diferente, começa por ser uma casa de campo para príncipes, passa a ser casa de campo de reis e chega a ser considerado palácio real... Contudo é também essa a linha da História de Portugal nesta época, também ela circunstancial e feita de vontades de momento, em especial a partir de D. Maria I. Uma vez mais, a arquitectura serve para entender a vida...

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