sexta-feira, maio 20, 2005

Estação da CP do Rossio

Riscada por José Luís Monteiro, em 1886-87, a estação do Rossio é um dos edifícios emblemáticos do ecletismo português, enquadrado num romantismo já tardio, aliás bem característico da situação portuguesa.

Monteiro deparou-se com um caderno de encargos que o obrigava ao neomanuelino e conseguiu esgalhar uma fachada bem equilibrada, rasgada por espaços amplos, em especial os arcos que remetem para a simbologia do túnel e que acabam por atirar para uma imagética quase moçárabe. O arquitecto não terá ficado satisfeito com o trabalho decorativo, da responsabilidade do francês Bartissol, tendo várias vezes feito referência à falta de sensibilidade dos canteiros por ele utilizados (quase todos estrangeiros), tendo-os convidado a ir visitar os Jerónimos para ver como se fazia.

É curioso, que este edifício acaba por ser um símbolo do romantismo português, com a sua fachada neomanuelina, como programa oficial da estética que se queria redentora, a redenção de um tempo hodierno por um passado glorioso e glorificado e uma gare, belo exemplo da arquitectura do ferro, apontada para o futuro. À vista o passado, mas o futuro bem protegido. Um dia chamei a este tempo, o tempo de Janus, o deus das duas caras – glorifica-se o passado, pretendendo, através dele, alcançar um futuro glorioso.

De realçar, ainda, no cruzamento da descarga dos dois arcos centrais, a estátua de D. Sebastião. Ele é, na mitologia nacionalista, “o desejado”! Também a estação do Rossio era “a desejada” para a população da linha de Sintra, que antes da conclusão do túnel do Rossio, tinha que ir para a estação de Alcântara e depois vir para a Baixa. Mudam-se os tempos, não se muda o fado – D. Sebastião nos valha! Rais-nos parta!!!
Ao João Januário

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